Numa recente audiência relativa ao processo 'Angolagate', o tribunal de Paris abordou os pagamentos a cerca de 50 jovens raparigas que, entre os anos 1997 e 2000, acompanharam na capital francesa ministros e altos funcionários angolanos.A acusação sustenta que Pierre Falcone, o cérebro do negócio de uma venda de armas russas a Angola, em julgamento há mais de três meses em Paris, pagou mais de 500 mil euros em dinheiro vivo por estes serviços.
Quando foi insinuado que, além da companhia, as jovens prestavam outro tipo de préstimos aos angolanos, Falcone desabafou: "Ouvi tantas coisas no decorrer destes nove anos de tortura que essa é mais uma". A resposta de uma magistrada foi imediata: "Ainda vai ouvir pior, por isso prepare-se".
"Pretendia assegurar o melhor acolhimento possível às delegações", acrescentou o franco-brasileiro-angolano, que continua a apresentar-se no tribunal como tendo sido na época "mandatário" em Paris do Governo angolano.
As acompanhantes eram recrutadas por uma intermediária. "Tinham de ter boa apresentação, falar inglês e mostrarem-se discretas e acolhedoras", explicou a senhora, arguida no processo tal como mais de 40 outras pessoas, a maioria acusadas de terem recebido luvas para facilitarem o negócio da compra das armas por Angola, nos anos 1990.
Além dos pagamentos em dinheiro, algumas raparigas receberam prendas suplementares. Uma delas recebeu um carro Volkswagen Polo.
Apenas três das jovens compareceram na audiência e nenhuma evocou "outros serviços" aos angolanos. "Servíamos o café e o chá", disse uma delas. "O senhor Falcone foi sempre de uma gentileza e educação irrepreensíveis", acrescentou.
"Ele era como um pai para mim", disse outra, depois de ter informado que ele foi seu fiador para a compra de um apartamento.
A intermediária que recrutava as acompanhantes confirmou também ter comprado para os angolanos lugares para assistirem a partidas de ténis do torneio de Roland Garros e alugado um camarote no Estádio de França para o Mundial de 1998. Este último custou 300 mil euros.
O julgamento deste caso de "venda ilegal de armas" e corrupção atinge personalidades francesas e angolanas de primeiro plano e decorre em Paris até fins de Março.
Nenhum angolano foi constituído arguido, apesar de no processo serem citados diversos nomes, entre eles o do Presidente José Eduardo dos Santos.
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