Autor de "A desilusão de Deus"Ética: híbrido entre humano e chimpanzé "mudará tudo"
02.01.2009 - 21h22 PÚBLICOO cientista Richard Dawkins não esteve com meias medidas. Para ele se há algo que pode mudar as concepções que a sociedade tem sobre o homem – que estão na base de muitas discussões éticas sobre temas como o aborto ou a eutanásia – é a “hibridação com sucesso entre um humano e um chimpanzé”. O autor do livro "O gene egoísta" foi um dos criativos e pensadores que respondeu ao repto que a Edge.org lançou para o ar fresco de 2009: “What will change everything?” (O que é que mudará tudo?).Desde 1989 que a Edge.org se propõe a juntar pensadores de todas as áreas para criar um espaço que produza ideias inovadoras. Dawkins, autor dos livros “O gene egoísta” e “A desilusão de Deus”, foi provocador na sua resposta. “A nossa ética e as nossas políticas assumem, na sua maioria sem questionarem ou sem discutirem seriamente o tema, que a divisão entre o humano e o ‘animal’ é absoluta”, começa o cientista, para quem é este pensamento que está na base de políticas pró-vida que rejeitam o aborto e a eutanásia.“Nas mentes de muitas pessoas, o zigoto humano [a célula que resulta da fusão de um óvulo e de um espermatozóide], que não tem sistema nervoso e não pode sofrer, é infinitamente sagrado somente por ser humano. Mais nenhuma célula tem um status tão nobre”, disse o cientista, citado pelo The Guardian.Quebrar a barreira da espécieSegundo Dawkins, se houvesse um Paraíso com todos os animais que já viveram, o reflexo da evolução mostraria um continuo de animais que permitiria ligar-nos em rede, através da reprodução, tanto a um chimpanzé, como a um canguru ou a um peixe-gato.Apesar de em teoria o cientista defender que as pessoas percebem este raciocínio, “o que mudaria seria uma demonstração prática”. Dawkins dá quatro exemplos do que poderiam ser estas demonstrações: a descoberta de uma população de hominídeos vivos algures na Terra (o investigador não acredita nesta possibilidade), a hibridação com sucesso entre um humano e um chimpanzé, a produção de uma quimera com células de chimpanzé e de humano e a produção, através de engenharia genética, de um ser com ADN das duas espécies.Referindo-se ao híbrido, o investigador explicou que, “mesmo que fosse infértil, as ondas de choque que iriam ser propagadas pela sociedade seriam de salutar. É por isto que biólogos iminentes descreveram esta possibilidade como a experiência científica mais imoral que se pode imaginar: porque mudaria tudo!”.Mas as quimeras e a produção de um ser com ADN das duas espécies também seriam motivos de mudança. “Quão humana terá que ser uma quimera antes de haver regras de investigação mais restritivas?”, avança Dawkins. Em relação ao ser fabricado por engenharia genética, o investigador defende que através do conhecimento do genoma humano e do chimpanzé pode chegar-se a genomas intermédios de um ancestral comum das duas espécies. “O genoma intermédio entre este ‘ancestral’ reconstituído e um homem moderno, poderia, se fosse implantado num embrião, desenvolver-se no que seria um austrolopiteco renascido”, sugeriu o escritor.Dawkins salvaguarda-se: “Eu não disse que espero que alguma destas possibilidades se realize. Para isso era necessário reflectir mais.” Mas o autor admite que há um grau de excitação sempre que se é forçado “a questionar o que até agora é inquestionável.”
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